Os meses mais calmos apaziguam-nos, ao mesmo tempo que nos despertam para o que fomos empurrando para debaixo do tapete. A luz do dia prolonga-se, as horas são vagarosas, a confusão da cidade abre espaço ao silêncio. E é nessa reconexão com o que sempre esteve lá que as nossas emoções florescem. Os pensamentos adensam. O sentimento de mudança irrompe.
Surge também uma nova oportunidade: a de criar algo de novo. Reformular. Reintroduzir. Reforçar. O verão não acaba com o último mergulho no mar, mas em nós mesmos. E para deixar a luz vigorar sem prazo de validade, é necessário trazer a clareza do descanso para a realidade. Tentar caminhos diferentes. Quebrar algumas regras. Olhar para as coisas de outra perspetiva.

Com uma coleção que encapsula a atitude veraniana, Raquel Poço estica os limites do tempo e prolonga a sensação onde estivemos submersos nos últimos meses. Com uma estética orgânica que lhe é inata, a criadora adiciona elementos das nossas mais recentes memórias a peças que dispensam o carimbo temporal. Num processo gradual e sem pressas, o seu trabalho minucioso convida à reflexão e à consciencialização. Um ato único, que começa e termina no verão que reconstruimos por dentro.